Estamos em meio a uma nova guerra mundial: a da tecnologia

**Conflito Comercial entre EUA e China Força Países e Empresas a Escolher um Lado**

O embate em curso entre os Estados Unidos e a China sobre o futuro da tecnologia tem levado nações e empresas ao redor do mundo a tomar partido. Esse conflito está rompendo cadeias globais de suprimento e forçando empresas a deixar mercados lucrativos.5))1

Um exemplo recente é o TikTok, um popular aplicativo de vídeos entre adolescentes, que pertence a uma empresa chinesa, mas é dirigido por um CEO norte-americano. O TikTok foi bloqueado na Índia após um confronto na fronteira com a China, que resultou na morte de pelo menos 20 soldados indianos. Mais recentemente, autoridades dos EUA anunciaram planos para banir o aplicativo, considerando-o uma ameaça à segurança nacional. Essa notícia coincide com a decisão da empresa de deixar Hong Kong em função de uma nova lei de segurança nacional imposta pela China.

“Está se tornando cada vez mais difícil para uma plataforma tecnológica ser realmente global”, observa Dipayan Ghosh, diretor do projeto de plataformas digitais e democracia da Harvard Kennedy School.

A rivalidade entre as duas maiores economias do mundo está no cerne dessa questão. EUA e China competem em áreas como inteligência artificial e 5G, e, embora tenham laços econômicos profundos que poderiam permitir cooperação, as tensões recentes em torno da segurança nacional têm levado ambos os lados a reavaliar essas relações.5)1

Esse conflito também está afetando as interações com outras potências globais. O Reino Unido, por exemplo, está reconsiderando sua decisão de permitir que a Huawei, empresa chinesa, participe da construção de sua rede 5G, após os EUA imporem sanções que dificultam a viabilidade da empresa.

“Minha impressão é que as empresas de tecnologia estão percebendo que o futuro será muito menos globalizado”, afirma Michael Witt, professor sênior de estratégia e negócios internacionais na INSEAD. “Elas estão enfrentando um dilema real.”

**Uma Rivalidade Amarga**

Historicamente, EUA e China têm visões opostas sobre tecnologia. Enquanto empresas como IBM e Microsoft lideravam a inovação nos EUA na década de 1980, a China estava construindo seu Grande Firewall, um sistema de censura que exclui conteúdos disponíveis em outras partes da internet. A China criou uma internet controlada que atraiu outros países autoritários, como a Rússia, que também adotou restrições à sua rede com suporte chinês.

Nos últimos anos, os investimentos da China em tecnologia cresceram rapidamente, impulsionados pelo plano “Made in China 2025”, que visa reduzir a dependência de tecnologia estrangeira. No ano passado, o país importou US$ 306 bilhões em chipsets, representando 15% de suas importações totais.

Os EUA reagiram tentando limitar o avanço da China, acusando-a de roubo de tecnologia e impondo sanções a empresas chinesas. As tensões têm minado a possibilidade de cooperação tecnológica internacional.

“O governo chinês já percebeu que a dissociação é inevitável”, afirmam Ian Bremmer e Cliff Kupchan do Eurasia Group. O relatório sugere que a China buscará reformular a tecnologia global para atender a seus interesses em um mundo cada vez mais dividido.

**Um “Muro de Berlim Virtual”**

À medida que as relações entre as duas economias se deterioram, analistas alertam que as consequências afetarão todos os países e empresas de tecnologia que operam globalmente. O Eurasia Group alerta que o “novo Muro de Berlim virtual” forçará economias a escolher lados, com aliados tradicionais dos EUA, como Taiwan e Coreia do Sul, inclinando-se para a China devido à sua capacidade de fornecer semicondutores essenciais.

As tensões também estão levando países a considerar as empresas de tecnologia como setores nacionais, e não como atores globais, segundo Samm Sacks, do Centro Paul Tsai da Yale. “Agora, as empresas de tecnologia são solicitadas a representar os interesses de seus países de origem”, acrescenta.

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A Huawei tornou-se um exemplo emblemático dessa mudança. O governo dos EUA tem pressionado aliados a excluir equipamentos da empresa de suas redes 5G, e essa pressão está gerando resultados na Europa. A maior operadora de telecomunicações da Itália, por exemplo, excluiu a Huawei de uma oferta de equipamentos 5G.

No entanto, existem “diversos caminhos e evoluções” fora da rivalidade EUA-China, destaca Kislaya Prasad, da Universidade de Maryland. A Índia, por exemplo, está incentivando suas indústrias locais, especialmente após banir o TikTok e outros aplicativos chineses, permitindo que desenvolvedores locais aproveitem a oportunidade.

**Recuar ou Descentralizar?**

Para as empresas de tecnologia, as opções são complexas. Witt sugere que elas precisam decidir entre abandonar certos mercados ou descentralizar suas operações, criando entidades separadas. O TikTok parece estar buscando a segunda opção, distanciando-se da ByteDance, sua controladora.

Recentemente, o TikTok contratou Kevin Mayer, ex-executivo da Disney, como CEO e afirmou que seus data centers estão fora da China, onde os dados não estão sujeitos às leis chinesas. Há rumores de que a ByteDance está considerando estabelecer uma sede para o TikTok fora da China.

No entanto, essa mudança pode ser insuficiente. Legisladores dos EUA têm criticado o TikTok, e preocupações sobre segurança nacional foram levantadas pelo Secretário de Estado Mike Pompeo. “Para o TikTok, pode ser tarde demais”, afirma Witt. “A atenção negativa já se voltou para eles, e isso provavelmente não terminará bem.”